quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Negrinha
Menina bonita do laço de fita
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.
E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida.
E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha madrinha...
Projeto Videolog - Homofobia
As alunas Karolina e Natacha, da 8ª série 2, fizeram um videolog tratando do assunto. Vamos assistir o que elas tem a dizer.
Você concorda com elas? Deixe sua opinião nos comentários.
Projeto Videolog - Bullying
Hoje temos dois videologs sobre o tema bullying. O primeiro é da aluna Angela Luiza, da 8ª série 1 e o outro é das alunas Ananda e Caroline, do 1° ano 1. Vamos ver o que eles tem a dizer a respeito desse assunto?
E você, o que pensa a respeito do tema? Deixe sua opinião nos comentários.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Amor amarelado
Remexendo no guarda-roupa da minha mãe, encontrei uma caixa. Nem pequena, nem grande, encapada com um papel de presente tão antigo quanto a própria caixa. Suas cores amareladas, desbotadas, guardavam a minha curiosidade em seus segredos. Na verdade, o quarto da minha mãe sempre foi um mundo mágico, como se pertencesse aos contos de fadas, por onde vez ou outra podíamos passear – mas o acesso sempre era temporário. Perceber aquela caixa entre os pertences de minha mãe era como descobrir que um fauno ou uma fada estava escondida atrás da árvore da ilustração do livro de histórias infantis.
Puxei-a com o devido cuidado de quem escava uma relíquia arqueológica. Hesitei por um minuto, a caixa não era minha, estava ali parada há tanto tempo, teria eu o direito de desbravar aquelas terras desconhecidas? A curiosidade era maior que meu tino. Coloquei-a sobre a cama. Com as duas mãos, puxei a velha tampa para cima, tão demoradamente quanto possível, tentando prolongar o máximo possível aquele momento de descoberta. Uma vez aberta a caixa, o brilho dos meus olhos só fez aumentar. Dentro dela, velhos textos, tão amarelados quanto a própria caixa.
Ali me dei conta de que o amor que tenho pelas letras corre em minhas veias por motivos genéticos. Minha mãe era uma mulher de poucos estudos – voltou a estudar quando eu já estava na faculdade. Mas desde muito cedo tinha um amor pela palavra que se materializava no conteúdo da caixa que eu tinha em minhas mãos. Dentro daquele cofre, encontravam-se tesouros que remetiam a minha própria história e à minha origem.
Meus pais namoraram por cartas, já que moravam em cidades diferentes. Organizadas por emissor, minha mãe mantinha seguras dentro da caixa amarelada todas as cartas enviadas ou recebidas por ela. Cartas escritas à luz de lampião, à luz de vela, à luz da saudade... Li algumas cartas como quem busca a origem do universo – o que não era de todo mentira, já que aquele era o meu mundo cujo gênesis se mostrava documentado naqueles papéis. Em meio àqueles envelopes, um pequeno bilhete guardado, datado de alguns meses antes de eu nascer. Deitadas no papel roto, algumas palavras escritas nas letras tortas de minha mãe. Avisava, em meio a erros ortográficos, que havia saído e logo voltaria.
As palavras erradas de minha mãe não são mais as mesmas. O tempo se encarregou de corrigir as distorções da língua culta. Mas a pureza presente no sentimento expresso ao fim do bilhetinho, essa nada nem ninguém conseguiu alterar. Minha mãe continua a amar meu pai da mesma forma que manifestava naquele “amo você, minha vida” amarelado ao pé do papel.
(Andreia Evaristo)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Diário de um assassino
Comecei a analisar o caso há uns três meses. Vivia o dito sem fazer nada. Deitado em casa de cabeça pra baixo, os pensamentos todos em maresia, os relógios todos parados, os gastos todos mastigados, os gatos todos famintos. Não, ele não merecia viver. Apiedei-me dele, sim, não posso negar, principalmente por sentir que seus momentos de liberdade era assistir “Vale a Pena Ver de Novo”, e o “Ratinho”, mais tarde. Coisa mais triste, meu Deus! Acho até que no princípio ele nem gostava. Mas foi ficando parecido com um uso de maconha. Você sabe que não presta, mas continua sorrindo.
Eu devo agradecer a minha vida ao que ele era. Se não tivesse acabado com ele, o que seria de mim sem estas coisas? E o mais engraçado, ainda, era que ele já vinha me percebendo. Ele antevia até como eu era, como eu seria, como eu sou e como fui. Ele, a vítima, que não conhecia ainda nada do que agora eu conheço, era um Zé Ninguém, um Seu Coisa, um desesperado. Não enxergava nada, alienado mais que todos os sinônimos desta palavra. Era tão resoluta a sua condição de dispensável, e de cansaço, que ele mesmo queria que eu o apagasse.
Segunda confissão, ele me pediu um dia, num grito, seco, e só um: “Mate-me”. Depois caiu no choro. Depois abriu quatro garrafas. Depois saiu, todas estavam vazias. Nas ruas, as ruas estavam vazias. Os bares estavam vazios. Os becos estavam vazios. Seus amigos estavam vazios. Bosta, de desinformado. Não sabia ele que era Dia de Finados, e ninguém em nada mexia, e que se fosse visto, seria confundido com um fantasma; e isso ele não era?
Eu matei uma pessoa para salvá-la. Ela não se aguentava mais. Recebia mais nãos que um promotor a procurar por provas. Era ridicularizada, todos riam dela, e até aqueles, cansados de dar conselhos, lhe davam as costas. Ela não merecia mais viver. Não merecia viver aquele pedaço de pano, que não reconhecia etiquetas, que nunca ouvira falar em Dostoievsky, que podia ser facilmente ludibriado por uma criança atrevida. Até que no dia 7 de setembro de 1973 ela foi contundente. Tinha 38 anos quando morreu.
Era uma sexta-feira, oito horas, ela a primeira da fila (sempre viciada em filas), quando adentrou à secretaria e matriculou-se na escola pela primeira vez. Naquele dia, ela morreu. Morreu mais um analfabeto, para nascer, na mesma hora, uma nova pessoa, que a partir daquele dia, entre as minhas histórias, começou diariamente, a matar a ignorância, para fazer nascer sempre outra mais inteligente.
Meu nome é livro: Dou-lhe uma vida nova em seu lugar.
Mato você. Mas ressuscito.
(M. de Silva e Silva)
Fonte: ANotícia
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