Parada no ponto de ônibus, esperava pacientemente a hora de ir embora. Cansada das aulas da manhã, da gritaria das crianças, do peso da mochila... Vinha descontente com o salário que acabara de receber, já fazia em minha cabeça um milhão de contas diferentes, imaginando uma estratégia que me ajudasse a esticar o dinheiro até o último centavo, jogando uma última migalhinha para a véspera do próximo pagamento.
Assim, nessa circunstância, eu a vi. Ela vinha caminhando, toda charmosa, cabelos ao vento. O sol era um grande refletor virado para ela. E ela sabia que era a estrela principal, pois todos os olhares se voltaram em sua direção. Linda, meus Deus!, como era linda! Seu corpo esguio, com um balançar típico das garotas de Ipanema de Vinicius... Este, aliás, se estivesse ali, teria realmente se inspirado para mais um livro, com mais uma daquelas paixões infinitas enquanto durassem.
Fiquei olhando-a ir embora. A inveja corroía meus cotovelos. Por que eu não conseguia perder meus trocentos quilos de barriga? Por que eu tinha a bunda caída e caminhava com os ombros envergonhados? Se eu fosse mais magra, tudo seria diferente...
Mas, não! Ali fiquei eu, pensando que tudo poderia ser diferente se eu estivesse na pele daquela mulher... Quantas pílulas eu precisaria tomar para emagrecer os vinte quilos sobressalentes? Quantos shakes de proteína aliados às horas de musculação eu pagaria para dar uma turbinada no bumbum? Oh! meu Deus... Se pelo menos eu tivesse um salário justo para poder facilitar essa minha eterna dieta de segunda-feira...
Entro no ônibus, enfim. No caminho, me pego pensando: o que comerei no almoço? Macarronada, lasanha ou ovos fritos? O estresse, a obesidade ou a falta de dinheiro? Decido comer tudo hoje. Segunda-feira volto à dieta. Juro por Deus!
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